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Alfabeto

Nas línguas romanas e indo-germânicas, que possuem muitas vogais, o alfabeto é um conjunto específico de sinal gráfico que codifica visual- mente percepções sonoras, e cujo texto pode ser lido enquanto “partitura de um enunciado acústico” (A Escrita, 2010, p. 48). Criado para a notação linear e responsável pela representação da consciência histórica, o alfabeto compõe o código alfanumérico, ao lado dos numerais – que são sinais para quantidades – dos sinais para normatização da língua, correspondentes às vírgulas, aos pontos, aspas, parênteses e etc.

Sua invenção possibilitou a criação de discursos críticos e conceituais, desde a filosofia grega, passando pela teologia medieval, até a ciência moderna, modelando uma lógica de consciência discursiva e linear, distante das imagens, anterior à invenção da escrita. Com a organização dos sinais em linhas, nos diz Vilém Flusser, a dedução circular da decodificação numérica é substituída pela lógica discursiva e linear da escrita, de forma que a “violação dos numerais pelas letras” (ibid.) proveniente da técnica alfabética, impulsionou a transformação do pensa- mento imagético em discursivo linear. A trans- formação (transmutatio) da experiência mítica e oral da palavra em escrita, ou, da palavra sonora até as letras linearmente dispostas, evidencia a intenção iconoclasta dos inventores do alfabeto – de origem mesma daquela que subordinou os números às letras. “O alfabeto, como partitura de uma língua falada, permite registrar e disciplinar essa transcendência face às imagens alcançadas, com esforço, por meio da fala.” (ibid., p.50)

Aprisionada à transcendência circular dos di- zeres míticos e numéricos por meio da orde- nação conceitual alfabética e da codificação visual de sons, a escrita alfabética domesticou a consciência sonora, em favor de uma estrutura de pensamento lógica da linguagem, capaz de não sucumbir à consciência plástica das ima- gens. Nesse sentido, não fosse a “emigração” do código alfanumérico para o código digital, a evidência de uma nova consciência, outra vez imagética, poderíamos supor que o resgate do dito cenário arqueológico soasse um tanto quanto desapropriado, mediante a nova plastificidade dos cenários técnicos da imagem virtual. O pensamento correspondente ao novo código é pós-alfabético, e a partir dele forma-se uma nova consciência pós-histórica.

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