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Animalidade

As figuras da animalidade sempre exerceram grande fascínio sobre Vilém Flusser, em especial as criaturas marinhas. A mais famosa delas é provavelmente o personagem central de seu estranho livro Vampyroteuthis Inferna- lis (2011), um octópode gigante que vive nas fossas abissais e faz uso da bioluminescência para mover-se nas trevas absolutas. O interesse pela animalidade aparece pelo menos desde 1964. No artigo “Um Mundo Fabuloso”, publicado no jornal O Estado de São Paulo (1964, novamente in: Ficções Filosó cas, 1998), a experiência com o animal se apresenta já na forma que a caracterizará através de toda obra flusseriana: como uma conversação entre o humano e seus vários possíveis outros. Confrontados em um debate sobre a superioridade evolutiva, o octópode, a solitária e o embrião humano apresentam as qualidades que lhes permitiriam obter o título de ser o mais perfeito. Por meio de mecanismos de inversão lógica e pela tematização constante das singularidades da vida animal, o filósofo coloca em xeque uma série de condições humanistas que caracterizaram o pensamento ocidental ao longo da maior parte de sua história.

No Vampyroteuthis Infernalis, sua fábula animalesca mais conhecida, Flusser usa o octópode como figura alegórica de um possível futuro hu- mano alterado pelas tecnologias. Nesse livro, a biologia se converte em instrumento losó co, “pois ela nos oferece um modelo até mesmo mítico para as potencialidades ainda não realizadas em nós” (Vampyroteuthis infernalis, 2002, p. 70; traduzido do alemão)(1). O animal aparece assim, como figuração de potencialidades futuras e tecnológicas (pós-humanas) tanto quanto como alteridade que exige nosso respeito e admiração. Nesse sentido, seria possível dizer que Flusser trabalha questões que se tornariam parte do repertório teórico comum das ciências humanas apenas em nais dos anos 1990: o pós- -humanismo e os animal studies.

(1)Nota do tradutor: esta passagem não existe na versão elaborada em português.

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